"...Já estive aqui, refleti olhando em volta com a mesmalentidão. Era uma lembrança agradável, mas distorcida. Tentei for
çar a mente e buscar a resposta, mas ela se recusava a obedecer.
Deixei-me então levar pelos instintos e me aproximei das
rosas. Eram do mais intenso vermelho rubi que já vira e seu perfume parecia atravessar as fibras do corpo.
Fiquei andando entre as flores sentindo o toque suave das pétalas, ao arrepio que provocavam, completamente alheia a qualquer pensamento. Tudo era só instinto e me deixei dominar. Talvez por isso não achasse estranho quando a maciez das pétalas começou a arranhar levemente minha pele, aumentando a intensidade a cada passo que dava até se tornar impossível caminhar entre elas. Virei-me para tentar voltar ao círculo em espiral, mas quanto mais me aproximava sentia que as rosas espetavam-me, apertavam-me e pareciam querer me segurar. Suas folhas agrediam meu rosto, enroscavam nos meus cabelos e seus galhos eram como mãos cadavéricas de arbustos secos.
Os mesmos arbustos do estacionamento do museu!
Então a compreensão inundou-me num só jato. A gravidade voltou a seu curso normal. Minha mente clareou e me vi dentro da estufa de rosas. Olhei para elas e, de suas pétalas, gotas pingavam como orvalho da manhã e escorriam pelo chão até os meus pés descalços. Era viscoso e pegajoso, aderia a minha pele e não queria sair por mais que tentasse me livrar. O que era aquilo? Estiquei a mão para tocar o líquido em uma das rosas e olhei bem de perto. A repulsa tomou conta de mim: era sangue! O sangue escorria de todas as flores, por todos os lados e convergiam para o ponto onde eu estava.
...."